Este blog é um território para vadiar, de atenção às dobras dos acontecimentos, do acaso e dos bons encontros... Espaço para fazer reverberar afetações cotidianas! "(...) A vida não tem ensaio, mas tem novas chances... Viva a burilação eterna, a possibilidade: o esmeril dos dissabores! Abaixo o estéril arrependimento, a duração inútil dos rancores! Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos: a vida inédita pela frente e a virgindade dos dias que virão!" Elisa Lucinda
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Já é hora de desvirar a ampulheta
Deveria estar certo de que ao desvirar a ampulheta começaria uma nova contagem do tempo, mas desde que a ampulheta parou o que essas areias guardaram dentro de si naquele contar do tempo? Construíram castelos de areia, forminhas de praia, palavras sutis e atritos... ora escorreram suavemente ora dolorosamente, como se estivessem arranhando meus olhos. Sólidas e salgadas estruturas, diria, se não carregasse a doce propaganda da memória sem rastro, foliginosa e enfumaçada. Não faz mais diferença, as areias são pequenos manuscritos do tempo, nelas estão contidas todas as experiências dos milênios, vem de bem antes da minha recente existência e a elas juntar-me-ei num futuro recente. Quem duvidaria de nossa pequenez?
Será que as areias envelhecem? Talvez elas sejam as formas da velhice, o pó. São pelo menos quando uma bunda velha senta e deforma a areia com suas curvas mulambentas e gravitacionais.
As areias desertas de qualquer estação gravam sua volúpia silenciosamente, resistem ao seu destino atômico e tragicômico, afinal quem será lembrado nas areias do esquecimento? Quem será amado ou odiado? Quem terá o perfume tatuado e a textura da sua pele impregnada dos/nos poros de outrem? Quem conhecerá os segredos dos mares da outra pessoa e terá a sensação de estar sempre a desvendá-los em qualquer momento? Tanto nas lembranças quanto na imaginação!
Agora sou um exercício, uma matemática torta que visa potencializar todos os momentos da vida, sem piedade minha ampulheta soterra o tempo e minha miserabilidade. É a faca que você, supostamente, amola contra si mesmo. Acreditando que viver entre o delírio e o mistério torna a vida um pouco mais excitante. Não existe mais contabilidade, nem balança. A ampulheta nunca foi desvirada, porque ainda não acabou, quem desvira a ampulheta é a morte e nosso xadrez ainda esta no começo da partida, espero.
sempre inacabado, como precisa ser.
Leonardo Prata
http://amansalouco.blogspot.com/2007/01/j-hora-de-desvirar-ampulheta.html
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