terça-feira, 21 de dezembro de 2010

E que vengam las transformaciones!



O trem da sorte bifurcou!
Viva!
Passei na seleção pra professora substituta no IFRJ de Nilópolis!
Aêêêêêê

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O que será, que será?


Psiu!

Ei dia cinza, com matizes douradas
Com surrupios e cacacás


Dê-me um trevo, para que eu possa fazer novas bifurcações
E nas novas passagens, percorrer superfícies lisas e rugosas
E que vengan las transformaciones!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Transformar é preciso? Parte II

http://bichinhosdejardim.com/2010/12/09/

Titubear no espaço


Levar um tropeço e ver o chão se aproximar em câmera lenta. Não levar um tropeço e ver o chão se aproximar em câmera lenta.
.
Há mais modalidades de queda que tipos de chão.


Plástico bolha




No meu desejo, passei a tarde à toda, à toa, toda toda, só estourando plástico bolha... e no meu desejo eu também consegui baixar o vídeo da música sacaninha de Karina Buhr (há meses não posto vídeo por aqui, porque o meu programa tá em greve!)

hoje eu não tô afim
de corre-corre e confusão
eu quero passar a noite
estourando plastico bolha


Transformar é preciso?

http://bichinhosdejardim.com/2010/12/08/

Traveiz, traveizando



Entre tantas milhas percorridas, culturas novas visitadas, reencontro com o velho agora estranho, uma pausa, um pouso, no aconchego das palavras usadas, sujas e silenciadas...



Voltar a escrever é preciso!



Dar às palavras novos usos, sujá-las com novas mãos cheias de calos, futucar as teclas e se embrenhar nas telas brancas...

'ói nóis aqui traveiz!' Trazeiz???

domingo, 28 de novembro de 2010

Não haverá vencedores

Pode parecer repetitivo, mas é isso: uma solução para a segurança pública do Rio terá de passar pela garantia dos direitos dos cidadãos da favela

por Marcelo Freixo, na Folha de S. Paulo, via Vermelho

Dezenas de jovens pobres, negros, armados de fuzis, marcham em fuga, pelo meio do mato. Não se trata de uma marcha revolucionária, como a cena poderia sugerir em outro tempo e lugar.

Eles estão com armas nas mãos e as cabeças vazias. Não defendem ideologia. Não disputam o Estado. Não há sequer expectativa de vida.

Só conhecem a barbárie. A maioria não concluiu o ensino fundamental e sabe que vai morrer ou ser presa.

As imagens aéreas na TV, em tempo real, são terríveis: exibem pessoas que tanto podem matar como se tornar cadáveres a qualquer hora. A cena ocorre após a chegada das forças policiais do Estado à Vila Cruzeiro e ao Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro.

O ideal seria uma rendição, mas isso é difícil de acontecer. O risco de um banho de sangue, sim, é real, porque prevalece na segurança pública a lógica da guerra. O Estado cumpre, assim, o seu papel tradicional. Mas, ao final, não costuma haver vencedores.

Esse modelo de enfrentamento não parece eficaz. Prova disso é que, não faz tanto tempo assim, nesta mesma gestão do governo estadual, em 2007, no próprio Complexo do Alemão, a polícia entrou e matou 19. E eis que, agora, a polícia vê a necessidade de entrar na mesma favela de novo.

Tem sido assim no Brasil há tempos. Essa lógica da guerra prevalece no Brasil desde Canudos. E nunca proporcionou segurança de fato. Novas crises virão. E novas mortes. Até quando? Não vai ser um Dia D como esse agora anunciado que vai garantir a paz.

Essa analogia à data histórica da 2ª Guerra Mundial não passa de fraude midiática.

Essa crise se explica, em parte, por uma concepção do papel da polícia que envolve o confronto armado com os bandos do varejo das drogas. Isso nunca vai acabar com o tráfico. Este existe em todo lugar, no mundo inteiro. E quem leva drogas e armas às favelas?

É preciso patrulhar a baía de Guanabara, portos, fronteiras, aeroportos clandestinos. O lucrativo negócio das armas e drogas é máfia internacional. Ingenuidade acreditar que confrontos armados nas favelas podem acabar com o crime organizado. Ter a polícia que mais mata e que mais morre no mundo não resolve.

Falta vontade política para valorizar e preparar os policiais para enfrentar o crime onde o crime se organiza – onde há poder e dinheiro. E, na origem da crise, há ainda a desigualdade. É a miséria que se apresenta como pano de fundo no zoom das câmeras de TV. Mas são os homens armados em fuga e o aparato bélico do Estado os protagonistas do impressionante espetáculo, em narrativa estruturada pelo viés maniqueísta da eterna “guerra” entre o bem e o mal.

Como o “inimigo” mora na favela, são seus moradores que sofrem os efeitos colaterais da “guerra”, enquanto a crise parece não afetar tanto assim a vida na zona sul, onde a ação da polícia se traduziu no aumento do policiamento preventivo. A violência é desigual.

É preciso construir mais do que só a solução tópica de uma crise episódica. Nem nas UPPs se providenciou ainda algo além da ação policial. Falta saúde, creche, escola, assistência social, lazer.

O poder público não recolhe o lixo nas áreas em que a polícia é instrumento de apartheid. Pode parecer repetitivo, mas é isso: uma solução para a segurança pública terá de passar pela garantia dos direitos básicos dos cidadãos da favela.

Da população das favelas, 99% são pessoas honestas que saem todo dia para trabalhar na fábrica, na rua, na nossa casa, para produzir trabalho, arte e vida. E essa gente — com as suas comunidades tornadas em praças de “guerra”– não consegue exercer sequer o direito de dormir em paz.

Quem dera houvesse, como nas favelas, só 1% de criminosos nos parlamentos e no Judiciário…

*Marcelo Freixo é deputado estadual (PSOL-RJ), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.


sábado, 27 de novembro de 2010

La Chascona- Casa de Pablo Neruda

Um pouco de 'rojo' pra alegrar o dia frio e cinza em Santiago!



Que buena vista! Plaza de Italia- Santiago/ Chile com a Cordilheira dos Andes ao fundo...

Vista aérea da Cordilheira dos Andes... lindo!

Ipê argentino

Escolha...

Ao invés de bala... flor!

Sumiço e 'guerra'

Muita calma nessa hora! Ando mais desorientada e dispersa do que nunca, mas em PAZ, embora a globo tente espalhar o pânico na cidade e nos fazer acreditar que estamos em guerra. Ando sem paciência para ouvir tanta gente defendendo a matança generalizada em nome de uma suposta paz... quanta hipocrisia! Estamos carecas de saber o quanto a polícia tá envolvida com o crime, o quanto a sociedade alimenta o sistema e pererê caixinha de fósforo! Enquanto as drogas não forem legalizadas (e isso, definitivamente, não aumenta o consumo!!!), não vejo este cenário ser transformado. Não se iludam achando que as UPP´s acabaram com o tráfico! Só reorganizaram! Xô capitalismo!!!!

Enquanto minha revolta não se expressa de outro modo, aí vai um texto que recebi de Pâmella de um professora da UFRRJ.


'A Guerra do Rio – A farsa e a geopolítica do crime

José Cláudio Souza Alves

Seropédica, 25/11/2010

José Cláudio de Souza Alves é sociólogo, com doutorado na USP, professor da Universidade Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, autor do livro "Dos Barões ao Extermínio – Uma História da Violência na Baixada Fluminense"

Nós que sabemos que o “inimigo é outro”, na expressão padilhesca, não podemos acreditar na farsa que a mídia e a estrutura de poder dominante no Rio querem nos empurrar.

Achar que as várias operações criminosas que vem se abatendo sobre a Região Metropolitana nos últimos dias, fazem parte de uma guerra entre o bem, representado pelas forças publicas de segurança, e o mal, personificado pelos traficantes, é ignorar que nem mesmo a ficção do Tropa de Elite 2 consegue sustentar tal versão.

O processo de reconfiguração da geopolítica do crime no Rio de Janeiro vem ocorrendo nos últimos 5 anos.

De um lado Milícias, aliadas a uma das facções criminosas, do outro a facção criminosa que agora reage à perda da hegemonia.

Exemplifico. Em Vigário Geral a polícia sempre atuou matando membros de uma facção criminosa e, assim, favorecendo a invasão da facção rival de Parada de Lucas. Há 4 anos, o mesmo processo se deu. Unificadas, as duas favelas se pacificaram pela ausência de disputas. Posteriormente, o líder da facção hegemônica foi assassinado pela Milícia. Hoje, a Milícia aluga as duas favelas para a facção criminosa hegemônica.

Processos semelhantes a estes foram ocorrendo em várias favelas. Sabemos que as milícias não interromperam o tráfico de drogas, apenas o incluíram na listas dos seus negócios juntamente com gato net, transporte clandestino, distribuição de terras, venda de bujões de gás, venda de voto e venda de “segurança”.

Sabemos igualmente que as UPPs não terminaram com o tráfico e sim com os conflitos. O tráfico passa a ser operado por outros grupos: milicianos, facção hegemônica ou mesmo a facção que agora tenta impedir sua derrocada, dependendo dos acordos.

Estes acordos passam por miríades de variáveis: grupos políticos hegemônicos na comunidade, acordos com associações de moradores, voto, montante de dinheiro destinado ao aparado que ocupa militarmente, etc.

Assim, ao invés de imitarmos a população estadunidense que deu apoio às tropas que invadiram o Iraque contra o inimigo Sadan Husein, e depois, viu a farsa da inexistência de nenhum dos motivos que levaram Bush a fazer tal atrocidade, devemos nos perguntar: qual é a verdadeira guerra que está ocorrendo?

Ela é simplesmente uma guerra pela hegemonia no cenário geopolítico do crime na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

As ações ocorrem no eixo ferroviário Central do Brasil e Leopoldina, expressão da compressão de uma das facções criminosas para fora da Zona Sul, que vem sendo saneada, ao menos na imagem, para as Olimpíadas.

Justificar massacres, como o de 2007, nas vésperas dos Jogos Pan Americanos, no complexo do Alemão, no qual ficou comprovada, pelo laudo da equipe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, a existência de várias execuções sumárias é apenas uma cortina de fumaça que nos faz sustentar uma guerra ao terror em nome de um terror maior ainda, porque oculto e hegemônico.

Ônibus e carros queimados, com pouquíssimas vítimas, são expressões simbólicas do desagrado da facção que perde sua hegemonia buscando um novo acordo, que permita sua sobrevivência, afinal, eles não querem destruir a relação com o mercado que o sustenta.

A farsa da operação de guerra e seus inevitáveis mortos, muitos dos quais sem qualquer envolvimento com os blocos que disputam a hegemonia do crime no tabuleiro geopolítico do Grande Rio, serve apenas para nos fazer acreditar que ausência de conflitos é igual à paz e ausência de crime, sem perceber que a hegemonização do crime pela aliança de grupos criminosos, muitos diretamente envolvidos com o aparato policial, como a CPI das Milícias provou, perpetua nossa eterna desgraça: a de acreditar que o mal são os outros.

Deixamos de fazer assim as velhas e relevantes perguntas: qual é a atual política de segurança do Rio de Janeiro que convive com milicianos, facções criminosas hegemônicas e área pacificadas que permanecem operando o crime? Quem são os nomes por trás de toda esta cortina de fumaça, que faturam alto com bilhões gerados pelo tráfico, roubo, outras formas de crime, controles milicianos de áreas, venda de votos e pacificações para as Olimpíadas? Quem está por trás da produção midiática, suportando as tropas da execução sumária de pobres em favelas distantes da Zona Sul? Até quando seremos tratados como estadunidenses suportando a tropa do bem na farsa de uma guerra, na qual já estamos há tanto tempo, que nos faz esquecer que ela tem outra finalidade e não a hegemonia no controle do mercado do crime no Rio de Janeiro?

Mas não se preocupem, quando restar o Iraque arrasado sempre surgirá o mercado financeiro, as empreiteiras e os grupos imobiliários a vender condomínios seguros nos Portos Maravilha da cidade.

Sempre sobrará a massa arrebanhada pela lógica da guerra ao terror, reduzida a baixos níveis de escolaridade e de renda que, somadas à classe média em desespero, elegerão seus algozes e o aplaudirão no desfile de 7 de setembro, quando o caveirão e o Bope passarem.'


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Por onde andei...

Silêncio recheado


... de viagens
... de espanhol
... de Baco, vinhos e piscos
... y también de mucho trabajo!

sábado, 16 de outubro de 2010

Dilma X Serra













Embora com várias semelhanças, não são farinha do mesmo saco! Definitivamente o PT não é mais o mesmo há anos (se é que um dia ele foi aquilo que eu pensava...), Dilma não é minha candidata predileta, mas... Serra não, minha gente!!!

Karatê Kid



Não contavam com a minha astúcia? hehehe
Pois é, creiam! Eu fui ao cinema feito gazela saltitante pra assistir esse filme, pra surpresa do Léo, que nunca pensou que este filme me interessaria. Ledo engano! Ele desconhecia a minha paixonite juvenil por Daniel Sam, do primeiro Karatê Kid, que realmente lutava karatê. Mas rapidinho entendeu a 'transferência' pra Smithinho, que atua incrivelmente nesta nova versão. Eu era uma das pessoas mais animadas no cinema, falando, xingando, gritando, aplaudindo, disputando com todos os moleques presentes na sala! hahaha
Achei fantástico o fato de o filme acontecer na China e ter ficado deslumbrada com as cenas na muralha da China e na cidade proibida. Além disso, achei muito interessante que o protagonista é um negro estadudinense lutando Kung Fu na China. E convenhamos, Kung fu é muuuuuuuito mais bonito que Karatê. Ainda mais do modo como foi apresentando, presente em todos os contextos, como um modo de vida. Aplausos pro Smithinho que já é um grande artista e certamente está dando e dará muito trabalho ao Smithão e a Smithona (produtores do filme e do moleque). Aplausos ao novo Sr Miyagi, Jackie Chan, no papel do conturbado Mr. Han, que utiliza técnicas esquisitas pra mostrar ao malandrinho que o Kung Fu está em tudo na vida.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ziraldo: os zeróis na tela grande



Esta exposição deixou o CCBB ainda mais lindo e colorido! Adorei! Espero que ela circule pelo Brasil!

As invasões bárbaras




Demorei muito tempo para conseguir ouvir meus amigos e assistir um dos filmes mais belos que já vi. O título simplesmente me afastava. E não sei porque raios eu pensava que era algo do tipo de Conan- o bárbaro... Mas que barbaridade, tchê! Digo agora, em forte gauchês! Belo exemplo de preconceitos que me atravessam e me empacam...

Até que um dia este filme chegou até mim através de Aurelius e fortemente comentado por pessoas próximas queridas e aí, depois de alguns cochilos e tentativas fracassadas, há cerca de um mês consegui finalmente vê-lo por inteiro e me permiti ser invadida por emoções que me tomaram de assalto, de modo sutil (sim, isto é possível)... O filme emociona muito, sem ser piegas, ao abordar temas que me são muito caros no meu trabalho e olhar psi, como doença em fase terminal, morte, sistemas de saúde, família, relacionamentos conturbados, posições políticas críticas, invenção de novos modos de relacionamento, drogas, etc, etc.

O filme canadense, de 2003, do diretor Arcand, ganhador do melhor filme estrangeiro, promove o reencontro de um grupo de amigos com experiência docente universitária (que passou por todos os -ismos), do filme O declínio do império americano (1986). Ao invés de sucumbirem ao drama da doença de Rémy, produzem outros modos de estar junto, potencializando a vida e suas memórias com muito humor.

A relação familiar, especialmente com o filho, também é abordada de modo belo, mostrando a aparente dicotomia entre o mundo capitalista e socialista, as diferentes formas de configuração familiar e ajuda a desmontar a necessidade de que a família tenha que ficar grudada para ser 'unida'. Preciso dizer o quanto me emociono com as falas da filha de Rémy, em alto mar? É da linha de que 'estar perto não é físico'...

Salvação

sábado, 9 de outubro de 2010

Tesouras, please!!!


Fragmentos do desejo






Sombras, gestos contidos, corpos expressivos, bonecos, teatro, dança, música, partidas de xadrez jogadas repetidamente por anos entre pai e filho, palavras mudas.... amores impossíveis.
Eis alguns fragmentos do grande espetáculo da Cia Dos à Deux, em cartaz no CCBB- RJ até o dia 24 de outubro. Apesar de uma certa linearidade e de relações de causa-efeito, o espetáculo é Im-per-dí-vel!
Vale a pena ver uma palhinha do espetáculo através do link:
http://www.youtube.com/watch?v=dEuK6pNGNlQ







CFP repudia a demissão de Maria Rita Kehl

No dia 2 de outubro de 2010, a psicanalista e psicóloga Maria Rita Kehl, colunista do jornal O Estado de S. Paulo publicou artigo intitulado “Dois pesos” no qual questionou a desqualificação do voto da população pobre e fez comentários sobre o programa Bolsa Família, do governo Lula. O texto gerou grande repercussão na internet e mídias sociais nos últimos dias e culminou com a demissão da colunista no dia 6 de outubro. Segundo ela, a justificativa dada pelo jornal foi que Maria Rita cometeu um “delito” de opinião.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) repudia a demissão de Kehl, solidariza-se a ela e externa preocupação com a atitude do Estadão que, ao demitir uma articulista que se posiciona de maneira contrária ao discurso do jornal, fere o direito à liberdade de expressão e de pensamento. Ou não é para garantir a diversidade de opiniões que os jornais, além de editoriais, publicam artigos?

A grande mídia tem acusado o governo de cercear a liberdade de expressão e o Estadão há meses questiona um processo de censura. Entretanto, a demissão da colunista expõe a fissura entre o discurso da mídia que se diz ameaçada em sua liberdade de expressão e suas práticas cotidianas, restritivas à liberdade de opinião.

http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/noticias/noticia_101007_002.html

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Mídia, expressão e eleições



Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o Brasil Nunca Mais, onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de O Estado de São Paulo, de A Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um presidente que vem desse povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido a mais alta autoridade do país, ao presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma), “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes, nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo – Jeca Tatu -; negou seus direitos; arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação; conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados, de onde vem Lula, e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e para “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.

Outro conceito innovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas, importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA, que faz questão de não ver; protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra, mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e, no fundo, retrógrado e velhista; ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes?

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.



Leonardo Boff - teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.

Televisão

http://bichinhosdejardim.com/2008/08/

'Delito' de opinião


No bojo da polêmica acerca das afirmações do Lula sobre a tentativa de 'regulamentação' da imprensa e as acusações de censura e autoritarismo, eis que bombou na mídia (eu recebi e-mails de tudo quanto é canto) nesta semana a polêmica gerada pela demissão da psicanalista Maria Rita Kehl, colunista do Estado de São Paulo, que foi demitida do jornal após ter cometido um 'delito' de opinião. Uai, o problema não era o autoritarismo do presidente??? Vejam abaixo o texto 'delituoso' da 'criminosa':

DOIS PESOS

Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.

Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".

Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.