quarta-feira, 15 de junho de 2011

Se é tão caro, por que morar é preciso?


Quem conhece a cigana acá, sabe bem o quanto sempre tive urticária de pensar em ter um lar pra chamar de meu. 'Nunquinha' entendia o que motivava as pessoas a gastar rios de dinheiro, a ficar endividadas até o último fio de cabelo do fiofó e principalmente, a ter um endereço fixo. FIXO??? Como assim?!? Pânico total!!! Meu maior medo sempre foi o de criar limo e apodrecer... Pero, eis que após 15 mudanças em 10 anos de Bahia, a mobilidade, ou melhor, a desterritorialização como um fim absoluto, começou a dar sinais de desgaste.

Aliás, o ano de 2006, que marcou o meu retorno a Salvador, foi o início de um percurso de questionamento sobre as andanças sem trailler. Naquele ano eu habitei 6 lares diferentes, em 2 cidades! Haja corpo pra dar conta de tanta mochila nas costas e despedidas... comecei a me cansar e a sentir calafrios só em pensar no processo de encaixotar, de re re re re recomeçar...

E o pânico do limo foi sendo sacudido pelo pânico porque nada dura... minha ficha caiu (sim, sou do tempo da ficha!) quando viajei pra Bahia e Pernambuco em abril do ano passado. A viagem foi marcada por reencontros com amigos muito queridos na Bahia, por finalmente ter conhecido Recife (e essa viagem foi tão decepcionante que eu nunca consegui falar direito sobre ela), local que eu 'intuia' que seria minha próxima morada, após o doutorado no Rio (que como todo mundo que me conhece sabe, 'nunca' fez parte dos meus planos de permanência).

Dentre tantas experiências disruptivas nos 10 dias de viagem, há que se iluminar dois acontecimentos: apesar de adorar a viagem, os reencontros, os cheiros e comidas do nordeste que tanto amo, eu tava doida pra voltar pra casa. Doida mesmo, a ponto de mal ter chegado em Recife e já estar na contagem regressiva pra voltar pra casa. Sim. Essa sensação já havia rolado em viagens anteriores, principalmente quando fui a Maceió, em 2009. Mas desta vez voltar pra casa foi mais do que preciso! E em meio a esta urgência, no retorno... enquanto aguardava impacientemente a conexão em Salvador, lia o texto "Modernidade líquida: capitalismo cognitivo e educação contemporânea", do Veiga Neto, que seria discutido na reunião do grupo de orientação do doutorado, no dia seguinte. Mas eis que a leitura não desceu redonda... ao ler que na contemporaneidade, o maior pecado é o que dura, eu simplesmente fiquei estarrecida! Bah!!! Que soco no estômago!!! Seria eu uma 'vítima' dos tempos atuais, sucumbida à tara do agora, com pânico da duração??? Si como no!!! Ainda assombrada com as afetações provocadas por tantas discussões sobre a tal repetição...

Voltei azeda da viagem, como quem comeu tudo o que mais gostava e passou mal porque exagerou na dose.
Estômago embrulhado. Peso do mundo nas costas. E uma certeza: habitar um território sem perspectiva de partida é preciso!!!
Como tornar meu mundo portátil, seguir os fluxos, dar passagem ao novo, sair da condição de quem está de passagem para estar na passagem???
Mudar é preciso!

E foi assim que os longos cabelos ruivos, cultivados há mais de uma década, foram cortados pela tesoura do desejo, desejo mesmo de mudar. Foi assim que decidi investir no meu trabalho em Barra Mansa city que tantas alegrias têm gerado em minha vida. E foi assim também que escolhi viver a alegria do encontro com meu Guaipeca, que colocou música sob meus pés e me enche a vida de cores (mesmo adorando um tom pastel). E claro que, com os olhos marejados, o morar é preciso passou a ser tão caro, no duplo sentido do termo.

Desde agosto de 2010 comecei a procurar um lar pra chamar de meu. Entre idas e vindas, algumas visitas, pesquisas constantes na internet, medos e pânicos, racionalizações absurdas, eis que em meio à dor geral pela tragédia em Realengo, no dia 07 de abril de 2011, em um momento de grande despotencialização, procurei minha gerente da Caixa, pesquisei sobre possibilidades de financiamento e resolvi ligar pra imobiliária que anunciava um apartamento na terra de Noel, suplantando a desconfiança de que o imóvel/localização eram pra lá de problemáticos, ainda mais com a banheira de hidromassagem (sim, imagine a minha metidez!) que pra mim só indicava 'problemas'. Liguei pra corretora que estava na hora no apartamento aguardando um casal que havia agendado uma visita. Não titubeei. Marquei a visita naquele momento e liguei pro meu caríssimo amigo/ vizinho e parceiro Aurelius e fomos visitar o apartamento. Mal saía o casal (que dizia ser o primeiro apartamento visitado, que iriam olhar outros) e nós entramos. Pronto. É esse! Já deixei tudo acertado pra levar a documentação no dia seguinte. Aurelius me olhava atônito. A corretora estava irradiante. E o casal que visitou o apartamento depois ficou arrasado, porque no prédio vizinho morava o irmão da mulher. E eu ri. É esse. É esse!

E assim foi o processo, apresentei os documentos no dia seguinte, fiz a proposta de compra (enquanto isso, a mulher do dia anterior ligava desesperada tentando ver se eu havia desistido) e sosseguei meu coração. Apesar da chatice do processo burocrático e de alguns percalços, achei relativamente tranquilo o processo. O duro tem sido lidar com a minha ansiedade e desejo de habitar esse novo território físico recheado de novos territórios existenciais. E tudo o que tem me afetado, encantado, motivado, despirocado, vou compartilhar aos poucos (em doses lunares... hehehe) por aqui!

Agora pense numa pessoa feliz!!! Soy yo!

Mas simbora, porque tesear é preciso!


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