domingo, 27 de setembro de 2009

Till, a saga de um herói torto

Vários convites, intimações com direito a almoço com fricassé e mousse de chocolate...
e hoje Aureliano geriu mais uma atividade cultural... e levou uma trupe (eu, Thalles, Zeni, Ane e Carol) pra ver o grupo Galpão, de BH, que apresentou "Till, a saga de um herói torto" na Quinta da Boa Vista.

Adorei o lugar e pensei em várias atividades que podem acontecer no parque, e claro, adorei o espetáculo!!! A saga de Till é hilária, escrachada e triste... muito triste... desde o seu nascimento, abandono, agenciamentos com cegos, etc... até a perda da consciência (que só atormenta, não é mesmo?) e a busca dela... o que é mesmo alma, corpo e consciência? Como pensar nisso numa trama medieval, em pleno entardecer? Hum... quem não viu, dê um jeito de ver!
Eles retornarão ao Rio em outubro com outro espetáculo... Aguardemos e agendemos!

"O Galpão é, sem dúvida, a mais alta expressão no que se refere ao teatro de grupo no Brasil. Diferente do que acontece com a maioria das outras companhias conhecidas, que são lideradas pela figura do encenador, como o Centro de Pesquisa Teatral (CPT), de Antunes Filho, o Teatro Oficina, de José Celso Martinez Corrêa, a Companhia de Ópera Seca, de Gerald Thomas, ou o mais recente Teatro da Vertigem, dirigido por Antonio Araújo, o Grupo Galpão é um grupo de teatro formado essencialmente por atores, que geralmente convida diretores renomados para a criação de seus espetáculos.

A lista de contribuições significativas ao teatro brasileiro acompanha os 27 anos de existência do grupo, que já trabalhou sob a direção de Paulo José, Cacá de Carvalho, Paulo de Moraes e Gabriel Vilela; com o último realizou, em 1992, o espetáculo Romeu e Julieta, de Shakespeare, que foi aclamado em 2000, no Globe Theatre, em Londres, por público e crítica. Os próprios críticos ingleses escreveram, na época, que a peça teria resgatado a essência do teatro de Shakespeare, que é popular.

Nesse Till, o grupo Galpão resgata suas origens de Teatro de Rua; mas não um espetáculo de rua simples, feito para poucos espectadores, de forma improvisada. É uma peça com uma produção impecável, feita para o grande público, onde os atores tocam instrumentos e cantam na cena, que possui efeitos sofisticados, apesar da aparente simplicidade. A estória se passa na Idade Média, quando Deus e o Diabo apostam sobre a perdição dos homens: Se de uma alma forem retiradas algumas qualidades, inclusive a maioria da inteligência, ela conseguirá ou não manter a sua consciência?

Assim, ao nascer após mais de cinco anos de gestação, inclusive sendo retirado da barriga da mãe com a ajuda de um anão escafandrista, Till logo aprende que para sobreviver precisa usar de toda a astúcia e malandragem, enganando e subvertendo a tudo e a todos, como forma de escapar da miséria. O personagem perde sua consciência para o Diabo, e depois o desafia para recuperá-la, em um duelo hilário. Existe uma outra linha narrativa, dentro da trama, que conta a história de três cegos em peregrinação para Jerusalém, que criam um batalhão que combate à noite, em noites sem lua, ficando em igualdade de condições com os infiéis, e com ouvidos melhores.

Um dos pontos altos do espetáculo é o encontro dos cegos com Till, onde eles são enganados de forma primorosa pelo herói torto. Existem também alguns momentos de interação com a plateia, criados com sensibilidade, nada que espante um espectador com receio (muitas vezes com razão) de peças interativas.

O caráter popular do espetáculo, que se passa na Alemanha medieval mas poderia acontecer em outro tempo e lugar, com característica universal, é sempre reconfigurado no domínio dos atores ao envolver o público nos acontecimentos: a cena onde a mãe de Till será queimada na fogueira é um exemplo disso, quando as exclamações de “Fogueira! Fogueira!” viram uma espécie de grito de torcida de futebol.

O texto e a interpretação têm, muitas vezes um certo distanciamento, inclusive com os atores se referindo a si mesmos em terceira pessoa. Till Elenspiegel, o heroi mitológico criado pelo dramaturgo Luis Alberto de Abreu, lembra o travesso Macunaíma, de Mário de Andrade, bem como Juca e Chico, personagens criados no século XIX pelo alemão Wilhelm Busch, considerado o precursor das histórias em quadrinhos. A direção de Júlio Maciel, membro do Galpão, dá vivacidade ao texto, conseguindo realizar momentos hilários, grotescos e sublimes, se aproveitando do domínio dos atores na sua relação com o público. O cenário, de Márcio Medina, também contribui de maneira significativa, uma vez que proporciona, com alçapões e traquitanas, uma certa agilidade na movimentação da cena.

Um teatro de primeira, que está sempre questionando de forma construtiva a linguagem do próprio teatro, bem como a sua relação com a vida e as transformações: “a utopia não é um lugar no mundo, mas está na mente dos homens”. Till nos mostra a grandiosidade e a vulgaridade do homem, que junta corpo, alma e consciência na ação de inventar o sonho."

http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/entretenimento/till-a-saga-de-um-heroi-torto-com-o-grupo-galpao/


Nenhum comentário:

Postar um comentário