segunda-feira, 1 de março de 2010

Cuba em mim




Sempre senti que nasci na época errada... apesar de ser uma típica aquariana, mucho me gusta conocer ciudades antigas, adoro história, pinturas rupestres e faço várias incursões a tempos remotos imaginando a invenção de algumas maravilhas que tornam a vida tão mais gostosa, como o sorvete e o chocolate... tão mais quente e 'permanente-provisória' com o fogo e a escrita... tão mais nômade com a rede e o livro... tão mais mole e alegre, com a salsa e a rumba...

Durante muito tempo também acreditava que em outras épocas as pessoas eram mais politizadas, protestavam mais, como na época da ditadura militar no Brasil... enfim, sentia saudades de um tempo não vivido... E ao chegar em Havana fui tomada por um intenso sentimento de pertencimento como só a Bahia havia provocado até então... era como se eu sempre tivesse conhecido a cidade. Sim, sinto como se fosse cubana desde niña! E uma das coisas que mais me afetou foi justamente a percepção do tempo... não de um tempo que parou, mas daquele que escapa da desaceleração de 'um tempo sem tempo', onde a vida é viva e não mera mercadoria... embora também eivado de subjetividades capitalísticas...

A chegada no aeroporto foi engraçada... apesar da revista policialesca, fui recebida pela cor da paixão espraiada nas janelas, portas, corrimões... estoy em casa!

E os carros? Adorava contemplá-los e fotografá-los.

Mas o mais intenso foi sentir o tempo reconciliado e suspenso, apesar das tantas atividades e do desejo de comer a cidade, pude ficar na cocorinha diversas vezes! Mesmo conhecendo muitas pessoas e hablando muito, tive intensos momentos de 'outismo'... Hay vida sem celular e sem internet! Em sem en-gar-ra-fa-men-to! E graças ao bloqueio econômico! Pois é... Cuba enfrenta muitos problemas econômicos por causa do embargo da cretinice de Tio Sam, pero, isso também força os cubanos a serem inventivos, a afirmar outros modos de vida!

Uma vida menos ditada pelo consumo... é agora o meu consumo de vida! hehehehe

Também me senti menos ET. E minha equipe telúrica delirou! Não me senti uma pecadora por defender o aborto em toda e qualquer situação, por acreditar que a leitura pode inventar modos de vida, que cultura não é sinônimo de elite, por acreditar e defender saúde e educação públicos... por acreditar na vida coletiva e pública... por acreditar que é possível andar nas ruas e habitar parques... por acreditar que a indiferença pode ser afetada pela solidariedade... por acreditar!

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