terça-feira, 13 de abril de 2010

O essencial é invisível aos olhos?



A tragédia que abala o Rio de Janeiro há uma semana tem me feito refletir sobre os invisíveis e o processo de invisibilização.

Durante as 4 horas em que fiquei parada em São Cristóvão, dentro de um ônibus que faz o trajeto do aeroporto Galeão para a zona sul, ouvi muitas merdas, principalmente de uma senhora indignada com o motorista, exigindo que ele tomasse providências, pois os passageiros que ali estavam não eram 'comuns'. Ou seja, estes não poderiam ser castigados pelas chuvas... Vai ver a dondoca queria um helicóptero para resgatá-la enrolada em suas jóias (e suas merdas).
Ao conseguir chegar na rodoviária Novo Rio, constatei que não teria como ir pra casa, então decidi ir direto para Barra Mansa, onde teria que trabalhar até a noite. Ao aguardar ansiosamente (e impacientemente) o guichê da Cidade do Aço abrir, me dei conta de que, possivelmente, os atendentes teriam dificuldades para chegar até o local... e talvez o motorista também... enfim... a dificuldade não era apenas minha e das milhares de pessoas que se abrigavam na rodoviária naquele momento, mas também daqueles que exercem atividades essenciais, mas são invisibilizados no cotidiano... Como as tripulações de alguns vôos, que não conseguiram chegar no aeroporto, embora os vôos tivessem sido autorizados...

E isso me fez lembrar da greve de ônibus que aconteceu em Salvador, em 2006, que parou a cidade. Eu morava no Campo Grande, centro da cidade, e trabalhava em uma universidade na av. Paralela e para garantir 'meu transporte', peguei carona com uma colega que morava em um bairro vizinho. Ao chegarmos na faculdade, nos deparamos com os portões fechados... porque os funcionários responsáveis não haviam conseguido chegar e a instituição não tinha providenciado um transporte para buscá-los! Lembro-me do meu constrangimento e espanto por não ter me lembrado deles... pensei nos professores e alunos... e agora, isso foi atualizado na experiência da semana passada na rodoviária...

Vendo as reportagens, imagens e acompanhando as histórias da tragédia, principalmente em Niterói, no Morro do Bumba, essa questão da invisibilidade me deixa ainda mais inquieta e angustiada... muitos mortos... muitos... mas quem são essas pessoas?
Para muitos, são descartáveis: uma vez que são pobres podem morrer! Assim diminui a quantidade desta 'gentalha'... ai! Isso dá um nó nas tripas, na garganta e um indignação gigantesca!!! E ainda tem gente justificando que isso é castigo divino... ai ai! Dai-me paciência (que eu não tenho!)

Para outros, são as celebridades do 'espetáculo' que dão ibope em tantas conversas, nos meios de comunicação, objetos de negociação política, etc...

E para nós? Somos também atravessados pelos muitos e outros?

Aquele odor fétido, de lixo misturado com vidas humanas soterradas vivas, nos permite continuar invisibilizando essas vítimas? Nem os cães farejadores estavam suportando! E o fp do prefeito de Niterói ainda tem a cara de pau de dizer que não sabia de nada!
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Quantas vidas precisam ser soterradas diante dos nossos olhos?
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Já que tanta merda veio literalmente à tona, bora intervir pra mudar essa realidade! Nossa pequenez também vem à tona quando permitimos e naturalizamos esse tipo de tragédia. Nossa merda fede. E muito.

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