'O desafio é este: pelo menos uma vez por ano, andar na contramão das enfastiosas tendências dos mais-mais. Girar em sentido anti-horário na roda-viva do estabelecido. Resistir à correnteza da ideia pronta, ao vício do repeteco. Escapar da arapuca do óbvio, fugir do conforto coletivo. Só para descobrir o que há de interessante na outra ponta. A condição: contar como foi.

Ler os dez livros menos vendidos. Saber quem são e onde vivem as cem pessoas mais pobres do mundo. Assistir aos filmes menos comentados, os de menor bilheteria do século. Ver a lista dos mais mal-pagos em Hollywood. Ir atrás de quem não tem nenhum seguidor no Twitter. Mandar um recado para quem não tem nenhum amigo no Orkut. Ouvir as menos pedidas do rádio. E também as que ninguém jamais pediu. Ter olhos e ouvidos para uma nova bossa, novinha em folha. Acompanhar as novelas com menor audiência. Imitar as atrizes menos célebres e escrever para o ator que não recebe cartinha nem email de fã. Comprar roupas das etiquetas menos famosas. Interessar-se por quem foi aprovado em último lugar no vestibular. Frequentar blogs que não têm visitas. Entrar na loja de sapatos e pedir para ver os modelos que ninguém compra e estão empoeirando no estoque. Conhecer as propostas de quem teve menos votos nas últimas eleições. Lembrar da marca que nunca é lembrada nas pesquisas. Baixar o vídeo menos visto do You Tube. Viajar para o destino mais desconhecido. Ou para um dos mais conhecidos, e nele visitar um lugar aonde nenhum turista vai. No verão, não descer a serra. No inverno, não subir.

Quero só ver.'

Silmara Franco-