segunda-feira, 31 de maio de 2010

A expressão da loucura



Este vídeo mostra e publiciza diversas obras produzidas por 'loucos', famosos como Vang Gogh e outros tantos anônimos, intercaladas com alguns trechos de teóricos como Foucault, entre outros. Muito interessante!

O buraco do espelho



Música: Arnaldo Antunes
'Texto' abaixo: Yo, si como no!

Nas paredes da prisão
Entre os muros da escola
Nas ladeiras da cidade
Estilhaçam-se...
Cortamos e videntes estamos?

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Escritos de um louco


"Maldito, marginalizado e incompreendido enquanto viveu, encarnação máxima do gênio romântico, da imagem do artista iluminado e louco, Artaud passou a ser reconhecido depois da sua morte um dos mais marcantes e inovadores criadores do nosso século. Tudo o que, aos olhos dos seus contemporâneos pareceu mero delírio e sintoma de loucura, agora é referência obrigatória para as mais avançadas correntes de pensamento crítico e criação artística nas suas várias manifestações: teatro, arte de vanguarda e criações experimentais, manifestações coletivas e espontâneas, poesia, lingüística e semiologia, psicanálise e antipsiquiatria, cultura e contracultura. "

Ler é preciso! http://groups.google.com/group/Midiateca-HannaH/browse_thread/thread/8b4ef5568b104d6d?pli=1


Quero essa loucura pra mim!



"Pode-se falar da boa saúde mental de Van Gogh, que em toda a sua vida apenas assou uma das mãos e, fora isso, limitou-se a cortar a orelha esquerda numa ocasião. Num mundo no qual diariamente comem vagina assada com molho verde ou sexo de recém-nascido flagelado e triturado, assim que sai do sexo materno. E isso não é uma imagem, mas sim um fato abundante e cotidianamente repetido e praticado no mundo todo.

E assim é que a vida atual, por mais delirante que possa parecer esta afirmação, mantém sua velha atmosfera de depravação, anarquia, desordem, delírio, perturbação, loucura crônica, inércia burguesa, anomalia psíquica (pois não é o homem, mas sim o mundo que se tornou anormal), proposital desonestidade e notória hipocrisia, absoluto desprezo por tudo que tem uma linguagem e reivindicação de uma ordem inteiramente baseada no cumprimento de uma primitiva injustiça; em suma, de crime organizado. Isso vai mal porque a consciência enferma mostra o máximo interesse, nesse momento, em não recuperar-se da sua enfermidade. Por isso, uma sociedade infecta inventou a psiquiatria, para defender-se das investigações feitas por algumas inteligências extraordinariamente lúcidas, cujas faculdades de adivinhação a incomodavam.


E o que é um autêntico louco? É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada idéia superior de honra humana. Assim, a sociedade mandou estrangular nos seus manicômios todos aqueles dos quais queria desembaraçar-se ou defender-se porque se recusavam a ser cúmplices em algumas imensas sujeiras. Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido de enunciar certas verdades intoleráveis." (Trechos da obra 'Van Gogh, o suicidado pela sociedade - Artaud)

http://cultalt.tripod.com/3.htm

Quem é ele?



"Quem sou eu?
De onde venho?
Sou Antonin Artaud
e basta que eu o diga
Como só eu o sei dizer
e imediatamente
hão de ver meu corpo
atual,
voar em pedaços
e se juntar
sob dez mil aspectos
diversos.
Um novo corpo
no qual nunca mais
poderão esquecer.
 
Eu, Antonin Artaud, sou meu filho,
meu pai,
minha mãe,
e eu mesmo.
Eu represento Antonin Artaud!
Estou sempre morto.
 
Mas um vivo morto,
Um morto vivo.
Sou um morto
Sempre vivo.
A tragédia em cena já não me basta.
Quero transportá-la para minha vida.
 
Eu represento totalmente a minha vida.
 
Onde as pessoas procuram criar obras
de arte, eu pretendo mostrar o meu
espírito.
Não concebo uma obra de arte
dissociada da vida.
 
Eu, o senhor Antonin Artaud,
nascido em Marseille
no dia 4 de setembro de 1896,
eu sou Satã e eu sou Deus,
e pouco me importa a Virgem Maria."

http://cultalt.tripod.com/3.htm

Apagaram as palavras de Gentileza?


Numa estupidez estonteante, há alguns anos, jogaram cal em cima das obras de Gentileza. Mas as armas da ignorância e da violência não conseguiram apagar as palavras que, embora fixas nos viadutos da cidade, são moventes e 'movedouras'. Marisa Monte e sua sensibilidade encantadora, compôs essa música ao perceber o ato nada gentil. As obras foram restauradas. Mas taí a música pra não nos deixar esquecer...


terça-feira, 25 de maio de 2010

Arthur Bispo do Rosário: o artista da loucura da vida





Bispo é um belo exemplar do imbricamento entre loucura, genialidade e arte num corpo marcado pelos estigmas da loucura, da pobreza e da negritude. Potência!!!

Apesar de (e/ou por causa de) ter vivido cerca de meio século no Hospital Colônia Juliano Moreira/ RJ, assume a sua missão de reconstruir o universo e falar da passagem de Deus pela terra e produz em torno de 1000 peças, que podem ser conhecidas através do site do Museu Bispo do Rosário.



Os nós dos manicômios mentais


Na vibe do mês da Luta Antimanicomial, quero compartilhar um artigo que sempre me afeta muito e foi crucial para tirar minha cegueira paradigmática no processo final do mestrado. Uma das autoras é Magda Dimenstein, vírus-vida sem a qual eu teria sucumbido nas malhas da academia... ela literalmente esteve em minha defesa!!!

Neste artigo, os autores dão visibilidade à estratégias contemporâneas vivas e ávidas pela captura da loucura, presentes no cotidiano de serviços substitutivos de saúde mental.

Aí vai o resumo do artigo para dar um gostinho de 'quero ler o texto todo'!


A reforma psiquiátrica e os desafios na desinstitucionalização da loucura (2006)

Alverga, A.

Dimenstein, M.

O objetivo deste trabalho é discutir um dos muitos desafios presentes no processo de reforma psiquiátrica brasileira para a construção de uma rede integrada de atenção em Saúde Mental, para o cuidar em liberdade. Aborda determinadas forças identificadas como "desejos de manicômio", que perpassam todo o socius e alimentam as instituições, que se fazem presentes cotidianamente nas práticas e concepções no campo da saúde mental. Para tanto, nos propusemos investigar certos aspectos presentes nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), serviços responsáveis pela substituição da atenção manicomial, privilegiando artefatos como a observação de seu cotidiano e seu acervo fotográfico. Discutimos que o principal desafio da reforma psiquiátrica não reside apenas na falta de velocidade na sua implementação, mas na direção que vem tomando. Este movimento, por sua vez, requer rupturas, radicalização, e não uma superação que acaba por promover pactos entre o aparentemente novo e aquilo que representa a manutenção de séculos de dominação.

Palavras-chaves: saúde mental, serviços de saúde mental, assistência em saúde mental, reforma dos serviços de saúde

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sem medo de gentilezas




Gentileza






O profeta Gentileza nos faz encontrar com a loucura em sua face mais potente e viva: a loucura de produzir desvios de rotas em meio ao concreto, ao que aparentemente constrange a vida.
Ainda bem que suas frases permanecem vivas na terra de todas as armas e nos fazendo acreditar que a mais potente das armas é a gentileza!




Dasdoida


É a moda da loucura... é a loucura fazendo moda...

"Moda para qualquer corpo, loucura para qualquer mente.

Chama-se moda a arte efêmera que veste o corpo; a arte é inútil -- eu não quero ser artista, quero ser inútil.

Dadoida: moda feita com/por/entre "mentais" para o mundo inteiro.

Daspu, Daspre, Dasgor, Dasdoida, daslucro...

"Wishing love or wishing hell, kiss and tell...", amar e dar, vestir e amar, despir-se do eu. Doeu?

Fashion solidária, psigótica, caps4.org., moeda social, ecoprática, capitalismo esquizofrênico, labuta anti-manicomial, setor 2 e ½, supra-economia, arte 171, etc., etc..

DASDOIDA É RECICLAGEM DE MATERIAL HUMANO.

Dasdoida, Parangolé do Corpo Sem Órgãos, Roupa De Encontrar Com Deus, grife do Inconsciente, Salva-Vidas Infindos Infinitos...

A moda é uma Utopia sem moral, uma utopia impossível, já que, nela, pouco ou nada existe de ideal, definitivo e acabado; nada nela dura para sempre, nem é descartado em absoluto. A moda só é o que é por estar completamente exposta à ação do tempo.

Contato - dasdoida@gmail.com"

http://www.dasdoida.com.br/index.htm

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Sufoco da vida



Bela, divertida e sagaz. Eis um dos maiores sucessos do grupo Harmonia Enlouquece.

"Em 1998 foi criada no Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro (CPRJ) e oferecida aos pacientes, uma oficina coordenada pelo psicólogo e musicoterapeuta Sidnei Martins Dantas, chamada “convivendo com a música”, devido o desejo de oferecer um espaco onde os envolvidos pudessem vivenciar diversas atividades sonoro musicais se expressando, criando e consequentemente se comunicando.

No final de 2000 alguns pacientes necessitaram ampliar seus contatos com a música e começaram a compor. Assim se formou o Grupo Harmonia Enlouquece em fevereiro de 2001, e teve sua estéia em 7 de abril de 2001 “Dia Mundial da Saúde”. Em 2001 o segmento da saúde homenageado foi a saúde mental. Na ocasião foi realizado um grande evento chamado “Cuidar Sim, Excluir Não”, aonde se apresentou pela 1ª vez, com as 3 músicas compostas coletivamente.

Através dessas composições, fala-se da história de vida dessas pessoas e, dessa forma, pretendemos vê-las compartilhadas e valorizadas, através de canções próprias e interpretações do cancioneiro popular.

Em 2006 , ganhou seu 1º Prêmio Nacional, no “Festival Além dos Limites” da Fundação Nacional de Arte (FUNARTE), o prêmio viabilizou a compra de alguns equipamentos e a gravação do 2º CD do grupo, lançado em 2008 na Sala Sidney Muller (FUNARTE).

Desde seu início, já passaram pelo grupo 42 pacientes que não mais integram o conjunto, mas em algum momento precisaram do espaço em suas vidas. Outra observação foi a redução no número de internação dos integrantes e a melhora na adesão ao tratamento."

O grupo é formado atualmente por:

• Francisco de Paula N. Sayão Lobato Filho (violão); Sidnei M. Dantas (violão Solo e Bandolim); Hamilton de Jesus Assunção (Compositor e Vocalista); Ricardo Conde Barroso Leite (Contra Baixo); Telma Cristina Cannabrava Rangel (Back Vocal); Raquel Cruz da Silva (Back Vocal); João Batista (Back Vocal); Maria da Graça (Back Vocal); Geiza Caldas de Carvalho (Percussão); Alfredo de Oliveira (Percussão); André Luis Rodrigues de Oliveira (Percussão) http://www.harmoniaenlouquece.com.br/release.html

A Esquizofrenia e a Estrela de David


'Em 1938, a chamada “Noite dos Cristais” marca o início da perseguição aos judeus na Alemanha e na Áustria. Posteriormente, os judeus são confinados em bairros determinados e obrigados a andar com a estrela de David estampada em papelete amarelo e pregada junto a roupa, de forma que fossem facilmente identificados.

Esse segregacionismo também é estendido aos ciganos, comunistas, homossexuais e, inclusive, aos doentes mentais. A Alemanha de Hitler exterminou e perseguiu milhões de pessoas constituindo-se como uma das mais horrendas e vergonhosas páginas da história do Homem. Infelizmente o preconceito e perseguição às minorias chegam até os nossos dias, seja pelo viés das piadas e comentários de gosto duvidoso, seja por grupos organizados como os “skinheads”.

Em 20 de abril de 2010, ao retirar o medicamento do qual faço uso na “Farmácia de Medicamentos Especializados”, em Santos, gerenciada agora pela Cruzada Bandeirante São Camilo, sob os auspícios da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, recebo uma carteira amarela com enormes carimbos estampados: ESQUIZOFRENIA.

Confesso que num primeiro momento a única coisa em que pensei foi que havia em minha testa uma tatuagem, um carimbo com meu diagnóstico estampado para que todos pudessem apontar e dizer: “Lá vai o Esquizofrênico”. Teria sido apenas um “ato falho” da burocracia? Quem sabe uma ação inconsciente do recém-admitido gestor da farmácia? Ou seria, então, uma política pensada e planejada para expor e reafirmar o estigma das pessoas?

A Lei 10.216 (chamada Lei Paulo Delgado), assim como outras leis específicas da legislação médica, é ferida frontalmente na medida em que o sigilo do diagnóstico estabelecido em prontuário médico é, escancaradamente e em letras garrafais, divulgado. A “Carteira do Esquizofrênico”, nesse sentido, é uma afronta ao bom senso. Mais do que isso, é ilegal, dissemina o preconceito, ofende a ética e, sobretudo, causa revolta.

Todo o trabalho, treinamento, aprimoramento, debates, documentos, fóruns, leis promulgadas, etc., é jogado por terra por atos que denotam a verdadeira face de governantes descomprometidos com os avanços conquistados pelas lutas dos doentes mentais. A “Carteira do Esquizofrênico” mostra a verdade, ela rotula nossas misérias para calar a nossa voz.

Um governo que se nega a convocar a Conferência Estadual de Saúde Mental; que pouca importância dá a Saúde Mental de nosso município; que sucateou os serviços do Hospital Guilherme Álvaro para entregá-lo à iniciativa privada; que sucateou a antiga “Farmácia de Medicamentos de Alto Custo” para mais uma vez entregar um serviço público à iniciativa privada e que, em conjunto com a Prefeitura Municipal de Santos, vem precarizando os NAPS, só poderia mesmo mostrar todo o seu pensamento em relação a nós, usuários dos serviços, num “ato falho”: a “Carteira de Louco”.

A burocracia burra e mal intencionada é um dos braços desta máquina de estigmatização. Primeiros os loucos, depois os pobres, depois os negros, e assim por diante, até que todas as vozes contrárias sejam suprimidas.

O passo seguinte ao de retirar a nossa voz é nos colocar novamente nos manicômios (ou nos trinta novíssimos leitos psiquiátricos recém abertos pela Cruzada Bandeirante São Camilo) e, retrocedendo ainda mais, aplicar-nos castigos como o “eletrochoque”, a “solitária” e outros métodos sádicos, que brotam na mente dos que administram as instituições desse caráter, chegando, por fim, à tão sonhada volta da lobotomia, em que o Estado poderia estar livre de despesas e questionamentos.

Não, não tenho vergonha de ser Esquizofrênico. Mas também não posso dizer que fácil lidar com o preconceito. Por todos os lugares onde tento fazer valer a minha cidadania, logo vem a taxação: é louco! Também não é raiva o que sinto, nem indignação. É um sentimento de impotência frente a esta máquina tão poderosa que fatalmente irá desconsiderar meu desabafo com apenas um argumento: “é louco”. E isto é o que faz minhas pernas e meu corpo fraquejarem, mas parafraseando Cazuza no final de sua vida, morro atirando'.

Edison de Castro


quarta-feira, 19 de maio de 2010

Fábrica de doidos: o caso de Barbacena/MG



' Barbacena situa-se na Serra da Mantiqueira, a 169 km da capital mineira e conta hoje cerca de 124.600 habitantes.

Esse município de clima ameno de montanha, com temperaturas médias baixas para os padrões brasileiros, recebeu a alcunha de “Cidade dos Loucos” durante longos anos. Esse título foi recebido em função dos sete hospitais psiquiátricos que abrigou. A justificativa técnica para a instalação de tantos manicômios no mesmo território deve-se à antiga crença, defendida por alguns médicos da época, de que o clima de montanha era salutar para os que carregavam doenças nervosas. Nesse clima, os loucos ficariam menos arredios e, supostamente, facilitariam o tratamento.

Outra versão conta que, ao perder a disputa política para Belo Horizonte de sediar a capital mineira, ganha, como “prêmio de consolação” os tantos hospitais psiquiátricos, dos quais ainda restam três na cidade.

O maior desses hospitais, hoje administrado pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), começou a funcionar em 1903, numa imensa área rural (cerca de oito milhões de m2), nas terras da Fazenda da Caveira, que pertencera a Joaquim Silvério dos Reis – o delator da Inconfidência Mineira. As instalações desse hospital abrigaram anteriormente uma clínica de repouso e clínica para os nervos e, posteriormente, um Sanatório para Tuberculosos. Era uma instituição para ricos. Com a falência do sanatório, o prédio foi ocupado por um hospital psiquiátrico, em que os pacientes se dividiam em pagantes e indigentes.

A conhecida “laborterapia” era usada na época como parte do tratamento da loucura, na crença de que era necessário evitar a ociosidade, a qual era perniciosa ao espírito do louco. Por meio do trabalho, retirava-se o louco de sua condição de criatura inútil, possibilitando a canalização da sua agressividade e, conseqüentemente, a cura. Dessa forma, os pacientes pobres e considerados indigentes eram forçados a trabalhos monótonos e repetitivos, sem remuneração, e faziam trabalhos pesados na lavoura, na área do hospital, e na confecção de tijolos, bonecos, tapetes e outros produtos que eram vendidos ou consumidos internamente.
Em seu auge o hospital chegou a abrigar cerca de 5.000 moradores, os quais chegavam de todos os cantos do Brasil, apinhados em um trem que parava na frente dos pavilhões. Esse sinistro e terrível veículo ficou conhecido como “Trem de Doido”.

Do hospital, a maioria das pessoas não saía nunca mais. Muitos chegavam crianças e nunca mais viam suas famílias. Para lá, eram enviados meninos considerados pelos pais e professores como desobedientes; moças que, para a desgraça familiar, tinham perdido a virgindade ou que engravidavam sem estarem casadas; presos políticos e toda a sorte de “indesejáveis” na sociedade, dentre os quais também os sifilíticos e os tuberculosos.

Os internos viviam no hospital em estado de absoluto abandono. Perambulavam pelos pavilhões nus e descalços e eram forçados a comer comida crua, servida em cochos e sem talheres.

Para acomodar tanta gente nas instalações do hospital, as camas eram retiradas e feno era espalhado pelo chão. Tal estratégia chegou até mesmo a ser recomendada como medida em outros hospitais psiquiátricos da região. As pessoas dormiam todas juntas, amontoadas no piso do quarto sobre o feno. Conviviam com ratos, que lhes mordiam, com suas próprias fezes e urina e morriam às dezenas de diarréia, desnutrição, desidratação e de tantas outras doenças oportunistas. Estima-se que cerca de 60 mil pessoas morreram nesse hospital. Eram 60 óbitos por semana, 700 por ano.

Vários ex-internos se referem a um chá que era freqüentemente servido por volta da meia-noite e “estranhamente”, no dia seguinte, muitos amanheciam mortos e eram empilhados nos corredores e pátios do hospital.'

Clausura X Liberdade



Este vídeo aponta a construção da lógica manicomial, evidenciando seus efeitos nos ditos 'loucos' e na sociedade. Apresenta também os pressupostos da Reforma Psiquiátrica e nos instiga a problematizar a relação entre clausura e liberdade, tendo como trilha sonora a belíssima música Bicho de 7 cabeças, na voz do fofíssimo Zeca Baleiro.

Loucura confinada e outros possíveis



O vídeo de Ana Carolina da Fonseca mostra dois cenários com modos distintos de 'tratamento' dos ditos 'loucos'.
As imagens chocantes denunciam o modelo asilar que teima em existir em nossa sociedade. Como 'alternativa', o vídeo mostra imagens que traduzem a tentativa de construção de um modelo que possa substituir o manicômio e aponta o CAPS- Centro de Atenção Psicossocial como principal estratégia de transformação de práticas e discursos sobre a loucura. Essa é uma longa história, cheia de nuances... contudo, o vídeo dispara algumas reflexões e várias afetações, produzidas por imagens, pela trilha sonora de Raul (Toca Raul!!!) e por algumas frases que pontuam diferenças de modelo.

Por uma Sociedade Sem Manicômios



Manifesto de Bauru

Um desafio radicalmente novo se coloca agora para o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental. Ao ocuparmos as ruas de Bauru, na primeira manifestação pública organizada no Brasil pela extinção dos manicômios, os 350 trabalhadores de saúde mental presentes ao II Congresso Nacional dão um passo adiante na história do Movimento, marcando um novo momento na luta contra a exclusão e a discriminação.

Nossa atitude marca uma ruptura. Ao recusarmos o papel de agente da exclusão e da violência institucionalizadas, que desrespeitam os mínimos direitos da pessoa humana, inauguramos um novo compromisso. Temos claro que não basta racionalizar e modernizar os serviços nos quais trabalhamos.

O Estado que gerencia tais serviços é o mesmo que impõe e sustenta os mecanismos de exploração e de produção social da loucura e da violência. O compromisso estabelecido pela luta antimanicomial impõe uma aliança com o movimento popular e a classe trabalhadora organizada.

O manicômio é expressão de uma estrutura, presente nos diversos mecanismos de opressão desse tipo de sociedade. A opressão nas fábricas, nas instituições de adolescentes, nos cárceres, a discriminação contra negros, homossexuais, índios, mulheres. Lutar pelos direitos de cidadania dos doentes mentais significa incorporar-se à luta de todos os trabalhadores por seus direitos mínimos à saúde, justiça e melhores condições de vida.

Organizado em vários estados, o Movimento caminha agora para uma articulação nacional. Tal articulação buscará dar conta da Organização dos Trabalhadores em Saúde Mental, aliados efetiva e sistematicamente ao movimento popular e sindical.

Contra a mercantilização da doença!

Contra a mercantilização da doença; contra uma reforma sanitária privatizante e autoritária; por uma reforma sanitária democrática e popular; pela reforma agrária e urbana; pela organização livre e independente dos trabalhadores; pelo direito à sindicalização dos serviços públicos; pelo Dia Nacional de Luta Antimanicomial em 1988!

Por uma sociedade sem manicômios!

Bauru, dezembro de 1987 - II Congresso Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental

Mordida


'Um dia, li que tomate não tem gosto. O sabor só “acontece” quando a fruta é cortada, o que desencadeia uma reação química qualquer. Em tese, a depender do tipo de corte, altera-se o resultado. Para mim, o barato mesmo é triturar a iguaria com os dentes e pensar nas milhares de reações químicas explodindo naquele instante exato, entender que o sabor nasce ali, à medida em que o alimento vira parte do corpo.
a
O tomate só tem graça quando outro vem e morde.
a
Acho que o ser humano é um tomate'.

Ocupação Ueinzz

Maluco Beleza


Se pra alguns essa música é um baita clichê, pra muitos ela ainda afeta e nos faz problematizar a loucura.

Viva Raul!

O que é Saúde Mental


Rubem Alves


Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico.

Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se. Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.

Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos. Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, bastar
fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.

Pensar é uma coisa muito perigosa... Não, saúde mental elas não tinham.


Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvi falar de político que tivesse estresse ou depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.

Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos. Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". O hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito.

O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes.


Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos,
entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais" , sendo que o programa mais importante é a linguagem.

Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele.

Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso dos símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles

podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.

Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio: a música que saía de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou.

Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, saúde mental até o fim dos seus dias. Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música. Brahms e Mahler são especialmente contra-indicados. Já o funk pode ser tomado à vontade.

Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato. Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram.




Balada do Louco



terça-feira, 18 de maio de 2010

Saudações Antimanicomialistas!

















Salve, Salve o 18 de maio, Dia da Luta Antimanicomial!
Com o lema 'Por uma sociedade sem manicômios', esta luta teve início no processo de redemocratização do país na década de 80 e, desde então, tem tensionado as instituições, os modos asilares e nos convoca a exorcisarmos os manicômios mentais e os desejos de manicômios que nos atravessam e nos estrangulam.

A luta se faz a cada dia, todo santo dia... e em alguns dias, como nas fotos acima, vale fazer uma Parada e discutir o Orgulho Louco. É Salvador em 2007, 2008 e 2009 botando a loucura na rua!

E 'é nós', my bloguer, fazendo circular a palavra viva da luta e aumentando a sua chama para aquecer e não deixar esquecer que ainda existem milhares de pessoas abandonadas, mal tratadas, confinadas, impedidas de potencializar a loucura em nós.

Então, ao longo da semana procurarei publicar textos, músicas, vídeos, etc para dar visibilidade e comemorar a Luta Antimanicomial, como também denunciar lógicas e práticas manicomiais que ainda nos assombram e constrangem a vida. Para alguns visitantes, os post´s podem 'chover no molhado', para outros podem produzir o efeito de pensar e se contaminar... bora ver! A Luta continua!

sábado, 15 de maio de 2010

Joaninha e Deus



www.bichinhosdejardim.com

Ai

Rubi

Composição: Tata Fernandes / Kléber Albuquerque

Deu meu coração de ficar dolorido
Arrasado num profundo pranto
Deu meu coração de falar esperanto
Na esperança de se compreendido

Deu meu coração equivocado
Deu de desbotar o colorido
Deu de sentir-se apagado
Desiluminado
Desacontecido

Deu meu coração de ficar abatido
De bater sem sentido
Meu coração surrado
Deu de arrancar o curativo
Deu de cutucar o machucado

Deu de inventar palavra
Pra curar de significado
O escuro aço denso do silêncio
De um coração trespassado

"Eu te amo - disse.
E o mundo despencou-lhe nas costas. Não havia de sofrer tanto.
O mundo pesa sobre o amor. Leveza dá pena no espaço.
E se teu amor por mais pedra não voar: liberta tuas costas do peso que não carregas.
E se teu amor por mais pena não mergulhar: vai te banhar e olha-te no olhar que não te cega.
Se teu amor te pesa mais que o mundo que carregas: degela-o e deixa-o beber os deltas."

Deu meu coração de ficar abatido
De bater sem sentido
Meu coração surrado
Deu de arrancar o curativo
Deu de cutucar o machucado

Deu de inventar palavra
Pra curar de significado
O escuro aço denso do silêncio
No coração trespassado
Ai
Ai ai
Ai

De onde vem aquela calma?



Do lenço repousado no sofá
Do estômago recheado de borboletas
Das cortinas cerradas fazendo o dia dormir
Da louça limpa
Da cama em ondas
E vem de Rubi

Por Aurelius, a calma em forma de gente:

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Hamelin



Eita peça que provoca inquietação e nos impele a colocar em análise várias instituições, como a justiça, a verdade, a psicologia, etc.

Hamelin é o tipo de espetáculo que reverba no cotidiano, lança pulgas, questiona o instituído e o nosso sistema de' proteção' às crianças vítimas de violência, dando visibilidade aos discursos que nos atravessam e nos produzem. Permite também problematizar o tal 'depoimento sem dano' que aparece como 'o que há' em termos de cuidado de crianças vítimas de violência.

Fantástico! Principalmente a atuação de Vladimir Brichta.Assisti no CCBB RJ, onde saiu de cartaz no final de abril.Infelizmente. Aguardemos o seu retorno aos palcos cariocas. Enquanto isso, vale a pena ler:

'O jovem juiz Monteiro está determinado a provar que um importante membro da sociedade abusou sexualmente de uma criança. Na luta para reunir provas, descobre que não é nada fácil encontrar os culpados e distinguir o bem do mal. Com uma atmosfera próxima dos filmes de suspense e através de uma dramaturgia não convencional, Hamelin revela a impotência da sociedade em proteger a inocência das suas crianças e a impossibilidade de se chegar a uma única conclusão quando as palavras são tudo o que se tem para apurar a verdade'.

O espetáculo, com direção de André Paes Leme e protagonizado por Vladimir Brichta, foge da tradição ilusória. Segundo André, a cena, desenhada com precisão, é marcada por um forte despojamento aliado a uma densa interpretação. O jogo entre a narrativa e o drama convoca a imaginação e a memória do espectador. “Os atores assumem, além dos seus personagens, a função de comentar a cena, conduzir e questionar o olhar do público. Será que ele diz a verdade? A dúvida não sairá da sua mente”, comenta o diretor.

O jogo é nítido e as suas regras são reveladas para o público desde o início. A cena se desenha apoiada firmemente na interpretação dos atores, na dinâmica das suas marcas e na integração dos espectadores. A interpretação dos atores mantém uma forte carga emocional sem perder, no entanto, o distanciamento necessário para a provocação de um olhar crítico.

Além de Vladimir estão no elenco Alexandre Dantas, Oscar Saraiva, Cláudia Ventura, Alexandre Mello e Patrícia Simões.